CONHECENDO A ECOLOGIA MICROBIANA DO SOLO


Os microrganismos apresentam versatilidade metabólica e toleram várias condições ambientais desfavoráveis para organismos macroscópicos; além disso, devido a seu tamanho diminuto, estão sujeitos à dispersão por vários meios (e.g. vento, água, animais). Essas são as principais causas da ubiquidade dos microrganismos na natureza. No solo, a diversidade e a densidade microbiológica, assim como suas funções, estão relacionadas a características intrínsecas desse

O solo é um habitat extremamente peculiar com relação a outros habitats terrestres, em vista de sua natureza homogênea, complexa e dinâmica. Tais características permitem que organismos com metabolismos díspares possam conviver lado a lado, interagindo em estado de equilíbrio dinâmico muitas vezes com relações de dependências essenciais para sua sobrevivência, proporcionando, assim, condições ideais para uma biodiversidade extremamente elevada. Essas mesmas características são o principal impedimento para a introdução de tecnologias de manejo biológico, cujo efeito no solo é, em muitos casos, impossível de prever. Nesse sentido, o solo pode ser considerado como uma “caixa-preta”, e muitos esforços têm sido feitos para o desenvolvimento de técnicas que possibilitem estudos visando identificar seus componentes abióticos e bióticos, além da interação entre eles e sua participação nos processos do solo.

Os componentes bióticos apresentam-se na seguinte ordem hierárquica:

Genes —» Células —» Órgãos —» Organismos —» Populações —» Comunidades —» Ecossistemas

Uma população consiste em muitos organismos de um mesmo tipo vivendo juntos e uma comunidade consiste em populações de tipos diferentes que vivem no mesmo lugar. As comunidades biológicas e os componentes abióticos (matéria e energia) do ambiente físico-químico formam os ecossistemas, que podem diferir em extensão; podem, ainda, ser bastante amplos como uma floresta, ou diminutos como o trato intestinal de uma minhoca ou a rizosfera de uma planta. O nicho ecológico compreende o espaço físico ocupado por um organismo, seu papel funcional na comunidade e suas características de adaptação a condições ambientais.

Ecologia do solo é a parte da biologia que tem por objetivo o estudo das relações entre os seres vivos com seu meio natural e da sua adaptação ao ambiente ou, segundo Odum (1971), é o estudo da estrutura e função do ecossistema. A estrutura compreende: a composição da comunidade biológica (número de espécies e de indivíduos, biomassa e distribuição espacial das populações), quantidade e distribuição dos componentes abióticos e faixa gradiente das condições ambientais. A função envolve processos relacionados com: fluxo de energia, ciclagem biogeoquímica e regulação mútua dos organismos e do ambiente.

O solo como habitat é um sistema heterogêneo, descontínuo e estruturado, formado por micro-habitats discretos com diferentes características químicas, físicas e comunidades biológicas. Tais características são altamente interdependentes, de modo que não se pode modificar nenhuma delas sem modificar as demais. Além disso, algumas podem ser medidas, enquanto a mensuração de outras não é possível com o conhecimento atual. O micro-habitat ou microssítio é o local particular - ou volume do solo - onde células, populações ou comunidades microbianas são encontradas e cujo status físico-químico (microambiente) influencia seu comportamento, que, por sua vez, também influenciam o ambiente dentro desse espaço.

Microambiente do solo é uma situação físico-química na qual a célula, populações ou comunidades microbianas em particular encontram-se num dado momento. Diversos fatores físicos e químicos atuam simultaneamente determinando as condições ambientais, que são dinâmicas, devido à interação dos diversos fatores.

Para entender melhor a ecologia do solo é importante ressaltar alguns dogmas:

a) a comunidade reflete seu habitat;

b) um organismos se multiplica até que limitações bióticas ou abióticas sejam impostas contrabalançando a taxa de crescimento;

c) quanto maior a complexidade da comunidade biológica, maior sua estabilidade;

d) para qualquer mudança de um fator, um ótimo diferente passa a existir para todos os outros.

O equilíbrio biológico de um ecossistema baseia-se nas seguintes premissas:

Complexidade biológica —» Garante relações diversas —» Limita a explosão populacional —» Gera equilíbrio

Ou seja, uma elevada complexidade biológica garante relações diversas, as quais limitam a explosão populacional, gerando, assim, condições de equilíbrio biológico do sistema. A complexidade biológica é função direta da diversidade genética da comunidade, que é definida pelo número de espécies, indivíduos e processos. As relações entre os organismos tanto podem ser positivas como negativas. Estas últimas são necessárias porque evitam explosões populacionais. Uma comunidade em equilíbrio com seu ambiente sofre menor efeito de fatores externos e está sob estado denominado tampão biológico. A diversidade genética das comunidades também ocasiona diversidade funcional: a mesma função é executada por diferentes espécies, o que é denominado redundância funcional. Além disso, uma mesma espécie pode ter várias funções (ou seja, cada espécie participa de diferentes processos). A redundância contribui para a estabilidade dos ecossistemas. Assim, solos com comunidades diversas de organismos são mais resilientes, ou seja, recuperam-se melhor dos estresses porque, quando condições ambientais se tornarem adversas para uma ou mais populações com a mesma função (i.e., executam o mesmo processo) outras populações adaptadas àquela nova condição ambiental poderão substituí-las na realização do mesmo processo, que assim poderá ter continuidade.

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