OS TIPOS DE CONHECIMENTO HUMANO


No processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode penetrar em todas as esferas do conhecimento: ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma série de conclusões sobre a sua atuação na sociedade, baseada no senso comum ou na experiência cotidiana; pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando através de investigação experimental, as relações existentes entre determinados orgãos e suas funções; pode-se questioná-lo qunato à sua origem e destino, assim como quanto à sua liberdade; finalmente, pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, à sua imagem e semelhança, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados.

Apesar da separação metodológica entre os tipos de conhecimento popular, filosófico, religioso e científico, estas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa: um cientista, voltado, por exemplo, ao estudo da física, pode ser crente praticante de determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum.

Para melhor entender cada um desses tipos de conhecimento, vamos inicilamente traçar um paralelo entre o conhecimento científico e o conhecimento popular, para depois sinteticamente identificar o que caracteriza cada um deles.

 O conhecimento científico e outros tipos de conhecimento



Ao se falar em conhecimento científico, o primeiro passo consiste em diferenciá-lo de outros tipos de conhecimentos existentes. Para tal, analisemos uma situação muito presente no nosso cotidiano.

O parto no âmbito popular e o parto no âmbito da ciência da medicina.

Tipos de conhecimentos que encontram-se mesclados neste exemplo:

Empírico, popular, vulgar, transmitido de geração em geração por meio da educação informal e baseado na imitação e na experiência pessoal.

Científico, conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos científicos. Visa explicar "por que" e "como" os fenômenos ocorrem.

 

Correlação entre Conhecimento Popular e Conhecimento Científico

 

O conhecimento vulgar ou popular, também chamado de senso comum, não se distingue do conhecimento nem pela veracidade, nem pela natureza do objeto conhecido. O que diferencia é a FORMA, O MODO OU O MÉTODO E OS INSTRUMENTOS DO CONHECER.

Aspectos a considerar:

A ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade.

Um objeto ou um fenômeno podem ser matéria de observação tanto para o cientista quanto para o homem comum. O que leva um ao conhecimento científico e outro ao vulgar ou popular é a forma de observação.

Tanto o "bom senso", quanto a "ciência" almejam ser racionais e objetivos.

 

Características do Conhecimento Popular

 

Se o "bom senso", apesar de sua aspiração à racionalidade e objetivo, só consegue atingir essa condição de forma muito limitada, pode-se dizer que o conhecimento vulgar, popular, latu sensu, é o modo comum , corrente e espontâneo de conhecer, que se adquire no trato direto com as coisas e os seres humanos.

"É o saber que preenche a nossa vida diária e que se possui sem o haver procurado ou estudado, sem a aplicação de um método e sem se haver refletido sobre algo". (Babini, 1957:21).

 

Verificamos que o conhecimento científico diferencia-se do popular muito mais no que se refere ao seu contexto metodológico do que propriamente ao seu conteúdo. Essa diferença ocorre também em relação aos conhecimentos filosóficos e religioso (teológico).

Apresentamos abaixo, em linhas gerais, as características principais dos quatro tipos de conhecimento: popular, filosófico, teológico e cinetífico.

 

CONHECIMENTO POPULAR


Superficial - conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente estando junto das coisas.


Sensitivo - referente a vivências, estados de ânimo e emoções da vida diária.


Subjetivo - é o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos.


Assistemático - a organização da experiência não visa a uma sistematização das idéais, nem da forma de adquirí-las nem na tentativa de validá-las.


Acrítico - verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma forma crítica.

 






CONHECIMENTO FILOSÓFICO

 

Valorativo - seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação. As hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência e não na experimentação.


Não verificável - os enunciados das hipóteses filosóficas não podem ser confirmados nem refutados.


Racional - consiste num conjunto de enunciados logicamente correlacionados.


Sistemático - suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade.


Infalível e exato - suas hipóteses e postulados não são submetidos ao decisivo teste da observação, experimentação.


A filosofia encontra-se sempre à procura do que é mais geral, interessando-se pela formulação de uma concepção unificada e unificante do universo. Para tanto, procura responder às grandes indagações do espírito humano, buscando até leis mais universais que englobem e harmonizem as conclusões da ciência.

 

CONHECIMENTO RELIGIOSO OU TEOLÓGICO

 

Apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas, valorativas, por terem sido reveladas pelo sobrenatural, inspiracional e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis, indiscutíveis e exatas. É um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um criador divino. Suas evidências não são verificadas. Está sempre implícita uma atidude de fé perante um conhecimento revelado.

O conhecimento religioso ou teológico parte do pricípio de que as verdades tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em revelações da divindade, do sobrenatural.


CONHECIMENTO CIENTÍFICO

 

Real, factual - lida com ocorrências, fatos, isto é, toda forma de existência que se manifesta de algum modo.


Contingente - suas proposições ou hipóteses têm a sua veracidade ou falsidade conhecida através da experimentação e não pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico.


Sistemático - saber ordenado logicamente, formando um sistema de idéias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos.


Verificável - as hipóteses que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência.


Falível - em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final.


Aproximadamente exato - novas proposições e o desenvolvimento de novas técnicas podem reformular o acervo de teoria existente.

 

 

MÉTODOS CIENTÍFICOS

 

Todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam estes métodos são ciências. Dessas afirmações podemos concluir que a utilização de métodos científicos não é da alçada exclusiva da ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos.

 

Conceitos de método

 

"Caminho pelo qual se chega a determinado resultado, ainda que esse caminho não tenha sido fixado de antemão de modo refletido e deliberado". (Hegenberg, 1976:II-115)1.

 

"Forma de selecionar técnicas e avaliar alternativas para ação científica". (Ackoff In: Hegenberg, 1976:II-116)2.

 

"Forma ordenada de proceder ao longo de um caminho". (Trujillo, 1974:24)3

 

"Ordem que se deve impor aos diferentes processos necessários para atingir um fim dado". (Jolivet, 1979:71)4.

 

"Conjuntos de processos que o espírito humano deve empregar na investigação e demonstração da verdade". (Cervo e Bervian, 1978:17)5.

 

"Caracteriza-se por ajudar a compreender, no sentido mais amplo, não os resultados da investigação científica, mas o próprio processo de investigação". (Kaplan In: Grawitz, 1975:I-18)6.

 

Desenvolvimento histórico do método


A preocupação em descobrir e, portanto, explicar a natureza vem desde os primórdios da humanidade, quando as duas principais questões referiam-se às forças da natureza, a cuja mercê viviam os homens, e à morte. O conhecimento mítico voltou-se à explicação desses fenômenos, atribuindo-os a entidades de caráter sobrenatural. A verdade era impregnada de noções supra-humanas e a explicação fundamentava-se em motivações humanas, atribuídas a "forças" e potências sobrenaturais.

 

À medida que o conhecimento religioso se voltou, também, para a explicação dos fenômenos da natureza e do caráter transcendental da morte, como fundamento de suas concepções, a verdade revestiu-se do caráter dogmático, baseada em revelações da divindade. É a tentativa de explicar os acontecimentos através de causas primeiras, os deuses, sendo o acesso dos homens ao conhecimento derivado da inspiração divina. O caráter sagrado das leis, da verdade, do conhecimento, como explicações sobre o homem e o universo, determina uma aceitação sem crítica dos mesmos, deslocando o foco das atenções para a explicação da natureza da divindade.

 

O conhecimento filosófico, por sua vez, parte para a investigação racional na tentativa de captar a essência imutável do real, através da compreensão da forma e das leis da natureza.

 

O senso comum, aliado à explicação religiosa e ao conhecimento filosófico, orientou as preocupações do homem com o universo. Somente no século XVI é que se iniciou uma linha de pensamento que propunha encontrar um conhecimento embasado em maiores garantias, na procura do real. Não se buscam mais as causas absolutas ou a natureza íntima das coisas; ao contrário, procuram-se compreender as relações entre elas, assim como a explicaçào dos acontecimentos, através da observação científica, aliada ao raciocínio.

Da mesma forma que o conhecimento se desenvolveu, o método, a sistematização de atividades, também sofreu transformações. O pioneiro a tratar do assunto, no âmbito do conhecimento científico, foi Galileu Galilei, primeiro teórico do método experimental. discordando dos seguidores do filósofo Aristóteles, considera que o conhecimento da essência íntima das substâncias individuais deve ser substituído, como objetivo das investigações, pelo conhecimento das leis que presidem os fenômenos. As ciência, para Galileu, não têm, como principal foco de preocupações, a qualidade, mas as relações quantitativas. Seu método pode ser descrito como indução experimental, chegando-se a uma lei geral através de da observação de certo número de casos particulares.


Os principais passos de seu método podem ser assim expostos: 


observação dos fenômenos;

análise dos elementos constitutivos desses fenômenos, com a finalidade de estabelecer relações quantitativas entre eles; 

indução de certo número de hipóteses;

verificação das hipóteses aventadas por intermédio de experiências; 

generalização do resultado das experiências para casos similares; 

confirmação das hipóteses, obtendo-se, a partir delas, leis gerais.

 

Contemporâneo de Galileu, Francis Bacon também partiu da crítica a Aristóteles, por considerar que o processo de abstração e o silogismo (dedução formal que, partindo de duas proposições, denominadas premissas, delas retira uma terceira, nelas logicamente implicadas, chamada conclusão) não propiciam um conhecimento completo do universo. 

Parte do pressuposto de que o conhecimento científico é o único caminho seguro para a verdade dos fatos, devendo seguir os seguintes passos: 


- experimentação

- formulação de hipóteses; 

- repetição;

- testagem das hipóteses, formulação de generalizações e leis;

 

Ao lado de Galileu e Bacon, no mesmo século, surge Descartes. Com sua obra, Discurso do Método, afasta-se dos processos indutivos, originando o método dedutivo. Para ele, chega-se à certeza através da razão, princípio absoluto do conhecimento humano.


Postula, então, quatro regras: 

evidência, que diz para não acolher jamais como verdadeira uma coisa que não se reconheça evidentemente como tal, isto é, evitar a precipitação e o preconceito e não incluir juízos, senão aquilo que se apresenta com tal clareza ao espírito que torne impossível a dúvida; 

análise, que consiste em dividir cada uma das dificuldades em tantas partes quantas necessárias para melhor resolvê-las, ou seja, o processo que permite a decomposição do todo em suas partes constitutivas, indo sempre do mais para o menos complexo; 

síntese, entendida como o processo que leva à reconstituição do todo, previamente decomposto pela análise, consistindo em conduzir ordenadamente os pensamentos, principiando com os objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, em seguida, pouco a pouco, até o conhecimento dos objetos que não se disponham, de forma natural, em seqüências de complexidade crescente; 

enumeração, que consiste em realizar sempre enumerações tão cuidadosas e revisões tão gerais que se possa ter certeza de nada haver omitido.

 

Com o passar do tempo, muitas outras visões foram sendo incorporadas aos métodos existentes, fazendo com que surgissem também outros métodos, como veremos adiante. Antes, porém, cabe apresentar o conceito de mátodo moderno, independente do tipo. Para tal, será considerado que o método científico é a teoria da investigação e que esta alcança seus objetivos, de froma científica, quando cumpre ou se propõe a cumprir as seguintes etapas:


Descobrimento do problema - ou lacuna, num conjunto de acontecimentos. Se o problema não estiver enunciado com clareza, passa-se à etapa seguinte; se estiver, passa-se à subseqüente;

Colocação precisa do problema - ou ainda, a recolocação de um velho problema à luz de novos conhecimentos (empíricos ou teóricos, substantivos ou metodológicos);


Procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema - ou seja, exame do conhecido para tentar resolver o problema;


Tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados - se a tentativa resultar inútil, passa-se para a etapa seguinte, em caso contrário, à subseqüente;


Invenção de novas idéias - hipóteses, teorias ou técnicas ou produção de novos dados empíricos que rpometam resolver o problema;


Obtenção de uma solução - exata ou aproximada do problema, com o auxílio do instrumental conceitual ou empírico disponível;


Investigação das conseqüências da solução obtida - em se tratando de uma teoria, é a busca de prognósticos que possam ser feitos com seu auxílio. Em se tratando de novos dados, é o exame das conseqüências que possam ter para as teorias relevantes;


Prova ou comprovação da solução - confronto da solução com atotalidade das teorias e da informaçào empírica pertinente. Se o resultado é satisfatório, a pesquisa é dada como concluída, até novo aviso. Do contrário, passa-se para a etapa seguinte;


Correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obtenção da solução incorreta - esse é, naturalmente, o começo de um novo ciclo de investigação.

 

Métodos específicos das Ciências Sociais


A maioria dos autores faz distinção entre "método"e "métodos", porém, se de um lado a diferença ainda não ficou clara, de outro, continua-se utilizando o termo "método" para tudo.

Como uma contribuição às tentativas de fazer distinção entre os dois termos, diríamos que o "método"se caracteriza por uma abordagem mais ampla, em um nível de abstração mais elevado, dos fenômenos da natureza e da sociedade. Assim, teríamos, em primeiro lugar, o método de abordagem assim discriminado:


Método Indutivo- cuja aproximação dos fenômenos caminha geralmente para planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações mais particulares às leis e teorias (conexão ascendente);

Método Dedutivo - que, partindo das teorias e leis, na maioria das vezes predia a ocorrência dos fenômenos particulares (conexão descendente);

Método Hipotético-dedutivo - que se inicia por uma percepção de uma lacuna nos conhecimentos, acerca da qual formula hipóteses e, pelo processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenômenos abrangidos pela hipótese.

Método dialético - que penetra  o mundo dos fenômenos, através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.

Por sua vez, os "métodos de procedimento" seriam etapas mais concretas da investigação, com finalidade menos abstarta e mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos. Dir-se-ia até serem técnicas que, pelo uso mais abrangente, se erigiram em métodos. Pressupõem uma atitude concreta em relação ao fenômeno e estão limitadas a um domínio particular. São as que veremos a seguir, na área restrita das ciências sociais, em que gerlamente são utilizados vários, concomitantemente.

Método Histórico - consiste em investigar acontecimentos, processos e intituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje. Para melhor compreender o papel que atualmente desempenham na sociedade, remonta aos períodos de sua formação e de suas modificações;

Método Comparativo - é utilizado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os atuais e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento;

Método Monográfico - consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, instituições, condições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações;

Método Estatístico - significa a redução de fenômenos sociológicos, políticos, econ6omicos etc, em termos quantitativos. A manipulação estatística permite comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado;

Método Tipológico - apresenta certas semelhanças com o método comparativo. Ao comparar fenômenos sociais complexos, o pesquisador cria tipos ou modelos ideais (que não existam de fato na sociedade), construídos a partir da análise de aspectos essenciais do fenômeno;

Método Funcionalista -  é a rigor mais um método de interpretação do que de investigação. Estuda a sociedade do ponto de vista da função de suas unidades, isto é, como um sistema organizado de atividades;

Método Estruturalista - o método parte da investigação de um fenômeno concreto, eleva-se, a seguir, ao nível abstrato, por intermédio da construção de um modelo que represente o objeto de estudo, retomando por fim ao concreto, dessa vez como uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social.

 

 

Bibliografia de Apoio

 

BUNGE, Mario. Epistemologia: curso de atualização. São Paulo: T. A. Queiroz/EDUSP, 1980, capítulo 2.

 

HEGENBERG, Leônidas. Explicações científicas: introdução à filosofia da ciência. São Paulo: E.P.U. EDUSP, 1973, segunda parte, capítulo 5.

 

LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. São Paulo: Editora Atlas, 1991.

 

 

#UNIDADE 02. O ar em movimento

Todos sabemos que o vento é o ar em movimento, mas movimento horizontal. O que muitos não sabem é que o Sol é o grande responsável pela existência dos ventos. Desta maneira, podemos afirmar que o vento é o movimento do ar sobre a superfície terrestre, resultado de um aquecimento desigual da atmosfera pelo Sol.

As radiações solares esquentam a superfície da Terra, que por sua vez esquenta o ar que a rodeia, fazendo-o dilatar-se. Ao dilatar-se, fica mais leve e sobe, deixando em seu lugar o ar mais frio que é mais pesado. O ar quente que sobe esfria e volta a Terra, substituindo o ar quente. É esse vaivém das massas de ar que forma o vento.

A circulação de ar quente e frio em sentidos opostos forma a chamada corrente de convecção, que ocorre sempre que, em um ambiente, existe um local com diferença de temperatura em relação ao restante. Através das correntes de convecção podemos explicar alguns padrões de comportamento dos ventos em determinadas regiões de nosso planeta, como por exemplo, as chamadas brisas marítimas e terrestres.

Brisa marítima x brisa terrestre

Sobre grandes porções de água - como oceanos e lagos - boa parte da energia que incide durante o dia é absorvida pela água ou envolvida no processo de evaporação, de modo que o ar que as encobre permanece relativamente frio; já o ar circundante é mais aquecido, devido ao calor refletido pela terra e sobe, fazendo com que a massa de ar frio ocupe seu lugar.

Desta forma, durante o dia o vento tende a soprar da água para a terra. Este fenômeno é chamado de brisa marítima. Durante a noite, a situação se inverte. Como a água mantém por mais tempo a energia calorífica recebida, o ar sobre ela mantém-se mais quente que o ar sobre a terra e, assim, a tendência do vento é soprar da terra para a água. Este fenômeno é chamado de brisa terrestre.

Em regiões montanhosas também existe um padrão característi
co de ventos, senão vejamos: durante o dia, as encostas são mais aquecidas do que as regiões mais baixas, de forma que o vento tende a soprar em sentido ascendente. À noite, a direção dos ventos tende a mudar, já que as regiões mais altas perdem calor mais depressa.

 Observe nas figuras o processo de formação dos ventos no litoral e em zonas montanhosas, (a) durante o dia; (b) durante a noite.


Relação entre a pressão atmosférica e os ventos

Quando o ar é aquecido, torna-se menos denso, causando diminuição da pressão atmosférica e determinando uma zona de baixa pressão. O ar frio determina uma zona de alta pressão e provoca a subida do ar quente na atmosfera. Desta maneira, forma-se uma corrente ascendente ou corrente térmica. Este tipo de corrente é fundamental para o voo dos pássaros, para os esportes radicais - asa delta, parapentes e planadores - e outras utilidades.

Diante do que já estudamos, podemos entender agora, como se forma os ventos numa escala global. O planeta Terra não é aquecido de forma uniforme, sendo que as regiões mais próximas ao Equador, por receberem mais diretamente as radiações solares, são mais quentes do que as regiões mais próximas do Polo Norte e do Polo Sul.

O ar das regiões próximas ao Equador é quente e determina uma zona de baixa pressão atmosférica, enquanto nos polos a pressão atmosférica é maior. O vento surge quando o ar se movimenta de uma região de alta pressão para uma região de baixa pressão.

Cada hemisfério têm três padrões de vento: os polares, os de oeste e os alísios. As correntes de vento formam-se em direções opostas no Hemisfério Norte e no Hemisfério Sul. Os ventos se deslocam ligeiramente voltados para leste ou para oeste, devido ao movimento de rotação da Terra.


Ventos constantes

Alísios: são ventos que sopram constantemente dos trópicos para o Equador e que por serem muitos úmidos, provocam chuvas nesses arredores onde ocorre o encontro desses ventos. Por isso, a zona equatorial é a região das calmarias equatoriais chuvosas.

Contra-alísios: são ventos secos, responsáveis pelas calmarias tropicais secas. Sopram do Equador para os trópicos, em altitudes elevadas.


Ventos Periódicos

Monções: São os ventos que, durante o verão, sopram do Índico para a Ásia Meridional e durante o inverno, sopram da Ásia Meridional para o oceano Índico. As monções são classificadas da seguinte forma:

Monções Marítima: são ventos que se deslocam do oceano Índico para o continente e provocam fortes chuvas na Ásia Meridional, causando enchentes e inundações.

Monções Continental: sopram do continente para o Oceano Índico provocando secas no sul da Ásia.

Brisas: são ventos repetitivos que sopram do mar para o continente durante o dia e do continente para o mar durante a noite.


Ventos locais e variáveis

O vento local se desloca numa certa região em determinadas épocas. No Brasil, um bom exemplo de vento local é o Noroeste, massa de ar que, saindo do Amazonas, alcança o Estado de São Paulo entre agosto e outubro. No deserto do Saara, ocorre um vento extremamente forte conhecido como simum, que provoca enormes tempestades de areia. Já os ventos variáveis são massas de ar irregulares que varrem uma determinada área de maneira inesperada.

 

Ventos Perigosos

Ciclone: caracteriza-se por uma tempestade violenta que ocorre em regiões tropicais ou subtropicais, produzida por grandes massas de ar em alta velocidade de rotação. Os ventos de um ciclone podem superar 50km/h.

Furacão: caracteriza-se por um vento circular forte, com velocidade igual ou superior a 108km/h. Os furacões são os ciclones que surgem no mar do Caribe (oceano Atlântico) ou nos EUA. Os ventos precisam ter mais de 119km/h para uma tempestade ser considerada um furacão. Giram no sentido horário (no hemisfério Sul) ou anti-horário (no hemisfério Norte) e medem de 200km a 400km de diâmetro. Sua curva se assemelha a uma parábola.

Tufão: são ciclones formados no sul da Ásia e na parte ocidental do oceano Índico, entre julho e outubro. É o mesmo que furacão, só que na região equatorial do Oceano Pacífico. Os tufões surgem no mar da China e atingem o leste asiático.

Tornado: é o mais forte dos fenômenos meteorológicos, menor e mais intenso que os demais tipos de ciclone. Com alto poder de destruição, atinge até 490km/h de velocidade no centro do cone. Produz fortes redemoinhos e eleva poeira. Forma-se entre 10 e 30 minutos e tem, no máximo, 10km de diâmetro. O tornado é menor e em geral mais breve do que o furacão, e ocorre em zonas temperadas do Hemisfério Norte.

Vendaval: vento forte com um grande poder de destruição, que chega a atingir até 150km/h. Ocorre geralmente de madrugada e sua duração pode ser de até cinco horas.

Willy-willy: nome que os ciclones recebem na Austrália e demais países do sul da Oceania.

#UNIDADE 02. A ATMOSFERA

1. A ATMOSFERA

A atmosfera terrestre é a camada gasosa que envolve a Terra e se estende por centenas de quilômetros. Os limites inferiores da atmosfera são representados pela superfície da crosta terrestre e dos oceanos. No entanto, os limites superiores não são bem definidos devido às variações de altitude.


A ATMOSFERA PRIMITIVA X ATMOSFERA ATUAL


A atmosfera atual é muito diferente daquela que se formou com nosso planeta há 4,6 bilhões de anos. Nesta época, a Terra, não era nada mais do que uma bola de rocha derretida cercada por uma atmosfera de hidrogênio e hélio. Ao longo de bilhões de anos de evolução, a Terra se resfriou o suficiente para formar uma sólida crosta coberta com ativos vulcões. Esses vulcões expeliam uma grande quantidade de gases, como vapor de água, dióxido de carbono e amônia. Com o decorrer do tempo, a luz do Sol quebrou as moléculas de amônia liberadas pelos vulcões, tendo como consequência a formação de nitrogênio na atmosfera. 

Apesar dessa mudança química na composição gasosa da atmosfera, o que mais causou uma alteração radical na atmosfera terrestre, foi sem dúvida, a surgimento das cianobactérias, seres fotossintetizantes, capazes de utilizar a energia do Sol transformando em energia química, através da fotossíntese. Nesse processo, ocorre a utilização do gás carbônico (CO2) e a liberação do gás oxigênio (O2).

Em apenas algumas centenas de milhões de anos, esta bactéria mudou completamente a atmosfera da Terra, chegando a composição atual – uma mistura de 21% de oxigênio e 78% de nitrogênio. A atmosfera além do nitrogênio e do oxigênio apresenta ainda o gás carbônico (0,03%), gases nobres e o vapor de água, que exerce um importante papel na regulação da ação do Sol.

A atmosfera apresenta-se como uma barreira natural que desempenha o papel de um filtro protetor para diversos tipos de radiações vindas do espaço. Ela impede que a maior parte das radiações ultravioletas (UV) cheguem a superfície terrestre, o que poderia causar vários danos aos seres vivos em geral. Uma das principais consequências pelo excesso de raios ultravioletas seria o aumento de câncer de pele nos seres humanos. Outras radiações que a atmosfera filtra são parte das radiações infravermelhas (IV), irradiadas pela superfície terrestre de volta para o espaço. Este processo só se torna possível, graças a presença, embora muito pequena, de vapor de água, ozônio e gás carbônico, que absorvem a radiação infravermelha emitida pelo solo e, por esse fato, percebe-se que tais gases influenciam de forma direta no controle da temperatura média da Terra.

Este fenômeno é o responsavel pelo efeito estufa natural, importante na manutenção da vida terrestre, pois garante temperaturas desejáveis para uma grande diversidade de seres vivos. Outra importante função da atmosfera consiste na atuação como um escudo protetor contra a ação de milhares de meteoros que constantemente entram nessa massa gasosa. Esses corpos celeste são destruídos devido a ação da alta temperatura presente em algumas camadas, como também, pelo atrito provocado contra as partículas do ar.

Camadas da atmosfera

A atmosfera terrestre é constituída por cinco camadas que apresentam características diferentes dependendo da temperatura e da altitude. A temperatura da atmosfera varia entre camadas em diferentes altitudes sendo, portanto, um dos parâmetros de classificação das próprias camadas. Os contatos entre elas são áreas de descontinuidade e possuem o sufixo “pausa”, após o nome da camada subjacente. Assim, por exemplo, a tropopausa é a camada de transição entre a troposfera e a estratosfera. Desta maneira, podemos nomear as seguintes camadas da atmosfera em: 

Troposfera: é a primeira camada terrestre, de baixo para cima, e se estende da superfície da Terra até a base da estratosfera. Ela possui uma altitude média de 11km, e contém cerca de 90% de toda a massa atmosférica. É tida como a mais importante em termos biológicos, pois nela vivem todos os seres vivos da Terra. Na Troposfera, à medida que aumenta a altitude, diminui a temperatura, chegando a -60º C, já nos limites da camada seguinte. Esta camada também é considerada importante porque nela ocorrem os fenômenos meteorológicos, tais como: ventos, furações, ciclones, nevascas, nuvens e chuvas. Desta maneira podemos afirmar que todos estes fenômenos ocorrem exclusivamente nesta camada.

Estratosfera: se caracteriza pelos movimentos de ar no sentido horizontal e fica localizada entre 7 até 50km de altitude aproximadamente, sendo a segunda camada da atmosfera, compreendida entre a troposfera e a mesosfera. Sua temperatura aumenta à medida que aumenta a altura (de -50º C a 10º C). A estratosfera apresenta muita estabilidade, devido o ar ser muito rarefeito e como consequência disso, não ocorre os fenômenos meteorológicos que se observam na Troposfera. É uma região calma e por esse motivo, é considerada a camada mais adequada para o tráfego aéreo. É nela que está localizada a camada de ozônio, que se estende entre 25 a 50km. O ozônio (O3) é o principal responsável pelo aquecimento da estratosfera, pois absorve os raios ultravioletas através de reações fotoquímicas, impedindo a passagem das radiações nocivas e, com isso, contribuindo para o crescimento da temperatura na camada. O ozônio ao desempenhar este papel torna-se um verdadeiro filtro solar da Terra, permitindo a vida no nosso planeta. Devido ao seu papel fundamental na garantia de existência na vida terrestre, a sua destruição é considerada como um dos maiores problemas ambientais deste século. Este problema veremos mais adiante em nosso estudo sobre a poluição do ar.

Mesosfera: mede cerca de 35km, indo de 50km de altitude, onde termina a estratosfera, até 85km. Dentre todas as camadas é a que apresenta as mais baixas temperaturas podendo chegar aos –100º C. As chamadas “estrelas cadentes” são objetos que, quando penetram na atmosfera terrestre, colidem com as moléculas de ar presentes na mesosfera.

Termosfera: se inicia a 85km de altitude se estendendo por cerca de 500km. A temperatura volta a crescer, e isso ocorre devido a alta concentração de partículas carregadas de eletricidade chamadas íons situadas numa determinada região da Termosfera. A região da termosfera cheia de íons é conhecida por Ionosfera e corresponde a parte inferior da Termosfera. Nessa região há uma grande absorção de radiação de ondas curtas (ultravioletas e raios x) o que leva a ionização dos elementos ali presentes e, assim, elétrons livres também, o que leva a criação do plasma ionosférico. Esse plasma pode refletir ondas de rádio utilizadas em radiodifusão.

Exosfera: é a parte superior da termosfera. Ela estende-se a partir de aproximadamente 550km. Devido a essa grande altitude, o ar se torna extremamente rarefeito de maneira que colisões entre moléculas é extremamente rara. É nesta região onde os satélites artificiais orbitam a Terra. Na Exosfera não há registro de absorção da radiação, por isso, ela não participa do processo de filtração seletiva da radiação, como a Estratosfera. A Exosfera seria uma fronteira entre a atmosfera da Terra e o espaço cósmico, onde não existe o ar.
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