Produtos orgânicos, cidadania e conhecimento popular: percepções de agricultores e agricultoras na feira agroecológica de João Pessoa - PB

Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Vol 6, No. 2, Dez 2011
NASCIMENTO, Ricardo de Sousa1; SIQUEIRA, Andréia Ferreira da Silva 2; NASCIMENTO, Roberto de Sousa3

1 IFPB – Campus Picuí, ricardosousapb@gmail.com;
2 UFPB – Campus I, deia_Siq@hotmail.com;
3 UFPB – Campus II, roberto.uni@gmail.com

Resumo: Apresenta-se neste trabalho o conhecimento e experiências em agroecologia de alguns agricultores e agricultoras da Feira agroecológica do Campus I da UFPB, localizada na cidade de João Pessoa no estado da Paraíba, dando ênfase em suas percepções no entendimento do uso da agroecologia, a partir da coleta de dados, entrevistas informais e audiovisuais, questionários, observações individuais e anotações de opiniões informais dos feirantes. Foram entrevistados 10 feirantes que forneceram informações de identificação pessoal e sobre as atividades agroecológicas desenvolvidas, que possibilitaram traçar um diagnóstico prévio. Os agricultores entrevistados vêm a agroecologia não só como uma ciência mais como uma filosofia de vida, a harmonia do homem e a natureza, resgate de valores morais, sociais e culturais. Por meio deste trabalho foi possível diagnosticar a viabilidade e os benefícios fornecidos pelas práticas agroecológicas em João Pessoa – PB para pequenos produtores como também para os consumidores da feira, já que a procura é alta pelos produtos agroecológicos, estabelecendo uma demanda de mercado e fluxo econômico na região, gerando renda e promovendo cidadania.

Palavras -Chave: Práticas agroecológicas, feirantes, agroecologia


Contexto
A poluição da natureza e a intoxicação por produtos químicos ultimamente vêm causando grandes problemas à saúde humana e o Brasil é um dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos, gastando anualmente mais de 2 bilhões de dólares com a comercialização destes produtos. Com essa grande poluição surgiu à necessidade de se produzir produtos limpos e sem conteúdo químico, aplicando em sua produção os princípios da agroecologia e da agricultura orgânica onde os alimentos são produzidos de forma sustentável sem que agrida a natureza. Esses produtos são conhecidos como orgânicos, ecológicos, naturais e agroecológicos devido serem livres de agrotóxicos, herbicidas e outros venenos sintéticos perigosos à saúde e ao meio ambiente.

A agricultura orgânica é uma atividade que visa promover a preservação do meio ambiente, respeitando a biodiversidade e as atividades biológicas do solo. Desta forma, esta atividade enfatiza o uso de práticas de manejo em oposição ao uso de agrotóxicos, assim fixando de modo mais definitivo o homem no campo essa agricultura visa também atender a demanda dos consumidores pela utilização de processos mais limpos de produção, evita a contaminação e degradação ambientais e incorpora as populações rurais no processo de desenvolvimento, representando a mudança de uma agricultura de insumos para uma agricultura de manejo.

O que antes parecia coisa de louco se falar em agricultura dita alternativa ou em agroecologia passou a ser considerado um diferencial social. Pois esse modo de produção vem ganhando espaço entre os agricultores de todo o mundo. Na América latina, as estatísticas indicam que o México e Argentina lideram a produção, mas o Brasil já movimenta 150 a 200 milhões de dólares.

No Brasil a área cultivada organicamente já representa 100 mil hectares e já somam 1.500 os produtores e empresas rurais certificadas com o selo verde ou orgânico, contudo devemos considera os agricultores que não possuem o selo, mas produzem organicamente.

Dessa forma os produtos orgânicos nos últimos anos vêm ganhando espaço na preferência dos consumidores preocupados com sua saúde e bem estar, pois esses alimentos são reconhecidos por quem os consome como saudáveis limpos e orgânicos, já que é livre de agrotóxicos ou adubação química. Esses alimentos geralmente são produzidos por pequenos agricultores que comercializam suas produções em feiras livres ou feiras agroecológicas a preço justo e solidário uma vez que a produção agroecológica e as feiras representam uma estratégia que objetiva além da conservação dos recursos naturais, através da produção de alimentos orgânicos, a melhoria na qualidade de vida, tanto do produtor quanto do consumidor que adquire esse tipo de produto, pois segundo Montiel (2004) a feira agroecológica é caracterizada como um caminho possível para o desenvolvimento de processos de produção, comercialização e consumo de alimentos em bases socioeconômicas e ecológicas sustentáveis e segundo Carvalho et al(2008) as feiras agroecológicas têm demonstrado serem espaços adequados e estratégicos para a venda direta dos produtos das famílias, promovendo melhoria na renda e fortalecendo a integração campo e cidade.

Na Paraíba as feiras agroecológicas vêm se multiplicando por todo o estado e já se tem um bom numero significativo de feiras.

O objetivo desse trabalho foi relatar experiências e o conhecimento popular de agricultores e agricultoras da Feira agroecológica realizada no Campus I em João Pessoa – PB, dando ênfase em suas percepções no entendimento do uso da agroecologia.

A metodologia aplicada ao trabalho foi de pesquisa bibliográfica relacionada ao tema, entrevistas (informais e audiovisual) e aplicação de questionários há alguns agricultores da feira agroecológica. Com a intenção de reunir informações sobre as formas de produção agroecológicas, escoamento dos produtos, ações de educação ambiental e os benefícios relatados pelos agricultores e agricultoras.

Descrição da experiência
Apresenta-se neste trabalho o conhecimento e experiências em agroecologia de alguns agricultores e agricultoras da Feira agroecológica do Campus I da UFPB, localizada na cidade de João Pessoa no estado da Paraíba, a partir da coleta de dados, entrevistas informais e audiovisuais, questionários, observações individuais e anotações de opiniões informais dos feirantes. Foram entrevistados 10 feirantes, em  que forneceram informações de identificação pessoal e sobre as atividades agroecológicas desenvolvidas, que possibilitaram traçar um diagnóstico prévio.

A feira surgiu em maio de 2002, a partir dessas iniciativas dos agricultores (as) passaram a receber apoio institucional da Cáritas Arquidiocesana/PB, Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Mandato Popular do Deputado Frei Anastácio. Atualmente sendo organizada pela associação dos participantes da feira e acompanhada pelos órgãos que prestam assistência técnica as famílias envolvidas nas feiras, o INCRA, ainda a CPT e ATERs.

As práticas agroecológicas adotadas aos seus modelos de produção são inúmeras, dentre elas pode-se destacar: uso de fertilizantes naturais a produção de húmus de minhoca e compostagem e biofertilizantes a partir de resto de culturas e alimentos, usados na própria propriedade como também comercializados; rotação de cultura e diversificação da produção; uso de potencialidades da propriedades, como integração lavoura pecuária, uso de sistemas agrossilvipastoris e outros sistemas; uso de defensivos naturais, folhas de pimenta (Piper nigrum) e nim indiano (Azadirachta indica), urina de vaca, calda bordalesa, inimigos naturais das pragas, manipueira, plantas repelentes, dentre outras.

Todos os entrevistados moram em pequenas propriedades rurais, de três a sete hectares, com 3 a 5 pessoas por família, tendo como fonte de renda o que o produzem e de programas de apoio financeiro do governo federal. Comercializando vários tipos de produtos de caráter agroecológico, dentre ele: banana, carambola, coco, fruta-pão, graviola, limão, mamão, alface, batata doce, batata, cebolinha, cenoura, coentro, couve-flor, maxixe, nabo, pimenta de cheiro. pimentão, quiabo, rabanete, tomate, abóbora, amendoim, feijão, gergelim, inhame-cará, linhaça, macaxeira, , milho, sapoti, beiju, bolo, húmus, leite, mel, ovos de capoeira, pão de queijo, pé-de-moleque, queijo, tapioca. Tendo baixas porcentagens de perdas variando de 5 a 10%, produtos estragados e/ou não comercializados, sendo aproveitas de diversas formas, trocado entre os próprios participantes da feira, para o consumo da família, doações aos vizinhos, uso em compostagem e/ou fornecido aos animais.


Resultados
Na experiência pode-se observar o conhecimento popular da agroecologia adquirido pelos agricultores, dá-se através de usas experiências e dos técnicos que dão assistências, promovendo assim mudanças em suas vidas, como: melhora na saúde, devido a não se trabalhar mais com agroquímicos e produzindo produtos sadios; na situação financeira, onde com a feira ouve a valorização dos seus produtos que além de eliminar a figura do atravessador, aumentando sua renda, chegando a mais de 100%, em alguns casos relatados; resgate da cultura, do conhecimento que se era passado de geração a geração e da valorização de suas origens culturais; nas percepções sustentáveis, protegendo o meio ambiente, vivendo em equilíbrio e harmonia com a natureza, não degradando, não provocando queimadas. Para um dos entrevistados “..esse novo conhecimento é fundamental na mudança do atual modelo de produção para um modelo que contribui positivamente para o meio ambiente e a qualidade de vida”. Essa ideia é reforçada por Prates & Nascimento (2009), onde afirmam que o conhecimento agroecológico surge modificando pensamentos, sendo eles essenciais para a substituição dessas práticas agrícolas impactantes e insustentáveis, porém para sua adoção se fazem necessárias mudanças de paradigmas por parte da população.

Os agricultores entrevistados vêm a agroecologia não só como uma ciência mais como uma filosofia de vida, a harmonia do homem e a natureza, resgate de valores morais, sociais e culturais. Sendo atribuída também como uma nova metodologia de produzir usando conhecimentos e ideias sustentáveis, justos e viáveis economicamente.

Por meio deste trabalho foi possível diagnosticar a viabilidade e os benefícios fornecidos das práticas agroecológicas em João Pessoa – PB para pequenos produtores como também para os consumidores da feira, já que a procura é alta pelos produtos agroecológicos, estabelecendo uma demanda de mercado e fluxo econômico na região, gerando renda e promovendo cidadania mutuamente, como uma mudança de paradigma de vida das pessoas envolvidas nesse complexo sistema social.
           

Bibliografia Citada
Araujo, J. C. COMERCIALIZAÇÃO DE ORGÂNICOS. Rev. Bras. Agroecologia, v.2, n.1, fev. 2007

CARVALHO, C. et al. Feira agroecológica: Alimentos saudáveis gerando renda e promovendo relações justas e solidárias no mercado. Ouricuri - PE, 2008.

Küster, A.; Martí J. F. Agricultura familiar, agroecologia e mercado no Norte e Nordeste do Brasil. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer, DED 2004.

MONTIEL, M. S. O contexto socioeconômico da agricultura ecológica: a evolução dos sistemas agroalimentares. Universidade de Sevilha, 2004.

PRATES, C. S. F.; NASCIMENTO, R. S.; Agroecologia: Mudança de Paradigmas no Distrito Federal. Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009  Vol. 4 No. 2


TAGLIARI, P. S. SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS DA GROECOLOGIA Projeto Agroecologia da Epagri. Florianópolis- SC.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

free counters